“Até quando as pessoas com deficiência serão invisíveis perante nossa sociedade?”

           Hoje vou colocar a história de uma mãe que foi levar a filha cadeirante em um show. É um verdadeiro absurdo a falta de respeito, o jeito como a pessoa com deficiência é vista, ou melhor, é ignorada!!!!!!!!!!!

Ai vai o relato:

DESUMANIZAÇÂO
Desde que recebi o diagnóstico de que minha filha tem uma rara síndrome, grande responsável pelo óbito de crianças ainda na primeira infância, vivemos situações constrangedoras.
Passamos por escolas que não nos aceitaram, aeroportos sem ambulifting, calçadas esburacadas, espaços públicos sem a menor condição de receber um cadeirante (ou qualquer pessoa com mobilidade reduzida), palavras preconceituosas em lojas e restaurantes elitizados, assim como nas padarias “das esquinas”; teve até síndico de prédio que se indispôs por uma vaga maior na garagem ignorando o espaço necessário para um carro adaptado e as dificuldades decorrentes da falta de mobilidade !!!
Hoje escrevo sobre o ocorrido no último sábado no Show da Palavra Cantada dentro do Shopping Villa Lobos, 19 de Outubro de 2013.
Chegamos por volta das 17h00, o local do show estava cheio, porém não lotado. O Show começaria as 19h.
Deixei minha filha em sua cadeira de rodas atrás da mesa de som e me locomovi até a frente do palco.
Depois da passagem reservada para os músicos, havia em frente ao palco, alguns poucos bancos vazios, reservados e protegidos por uma faixa.
Logo atrás, outros bancos lotados; cercados por outra faixa, que os separavam da fila reservada vazia e da passagem dos músicos. Esses bancos, a maioria ocupados por crianças, estavam encostados muito perto um do outro deixando um espaço vazio com tamanho suficiente para uma cadeira de rodas infantil. 
Pedi ao segurança do Shopping licença para entrar com minha filha. Houve recusa, mesmo vendo que no local cabia a cadeira. 
Mostrei o local para uma funcionária do corpo de bombeiros que viu a possibilidade de colocar minha filha. Ela conversou com o segurança e saiu à procura dos organizadores do evento para autorizar nossa passagem.
Enquanto aguardávamos os tais organizadores, uma mãe levantou a faixa e seu filho correu para sentar no local vazio, ninguém tentou impedi-los.
Neste momento, fui procurar os tais produtores e os encontrei numa roda, a maioria vestida de preto, alguns com o nome da banda.
Expliquei o que estava acontecendo. 
Fui humilhada e tratada como ignorante. Chorei de raiva! Recusaram-se a dar alguns passos para ver o local que eu estava falando.
Sugeriram que eu subisse ao segundo andar para que ela pudesse ver do vidro, o que qualquer pessoa de bom senso sabe que é impossível pelo espaço ocupado com a frente da cadeira de rodas. O corpo fica muito atrás. Mostrei o óbvio e a infeliz ainda complementou: “pelo menos sua filha não precisa daquelas cadeiras que reclinam. “ Dispensa qualquer comentário...
Outro sujeito grosseiro, disse que show de graça era assim mesmo, que se quiséssemos assistir deveríamos pagar pelo ingresso numa próxima oportunidade.
Outra sugestão desse mesmo ser foi que deveríamos chegar com mais antecedência, e “Que pena, que sua filha não aguenta esperar todo esse tempo para assistir ao show.. não posso fazer nada.”
Questionei a cota de assentos especiais. O Ser, me explicou que dos 300 bancos, 5% já haviam sido ocupados por gestantes e mães com crianças de colo. Tentei explicar que um cadeirante não necessita de banco, mas ele, assim como outros da equipe me ignoraram.
Só não fiz escândalo para não constranger ainda mais uma criança de apenas 4 anos que já passa diariamente por muitas outras frustrações.
(Se houvesse algum espaço reservado e já ocupado por um cadeirante que chegou antes eu teria me retirado sem questionar).
Optei por irmos embora daquele ambiente desumano após um passeio. 
Abstenho-me de comentar com detalhes o ocorrido para entrar nos elevadores, onde mães com carrinhos de bebê corriam a nossa frente para passar como se fossem perder a vida se aguardassem o próximo. Acredito que num zoológico os animais se respeitem mais.
Tentamos assistir o Show pelos vidros do 2º andar, como a Produção havia proposto, mas como eu já havia previsto foi impossível pelo espaço ocupado pela frente da cadeira.
Começou o show e para minha surpresa, aqueles locais proibidíssimos pelos Produtores estavam ocupados PELOS PRÓPRIOS!!! Tenho fotos que comprovam o que digo. E em nenhum momento eu havia pedido para colocá-la nesses locais, apenas no espaço vazio que neste momento já estava totalmente ocupado por outras crianças.
Minha pequena chorava pq queria ver o show. Na saída para o estacionamento, uma mãe com bebê no colo, comovida e decidida disse que me ajudaria abrindo espaço para que nós pudéssemos chegar mais perto e assistir o final do show, pois era nosso "direito". (antes eu já havia ido sozinha até o palco para fotografar os hipócritas – quando se está atrás de uma cadeira de rodas, fica difícil pedir licença para quem está a frente. )
Outras mães nos ajudaram e em poucos segundos estávamos no local de início, próximas a mesa de som, sentido palco. 
Neste momento aquele “ser” grosseiro e desumano do início, apareceu dizendo que eu estava tumultuando o Show e chamou o segurança para nos retirar. Uma voz do meu lado esquerdo, disse que era advogado e que estava a minha disposição.
Falei que meu advogado estava filmando toda a cena e que nada nos impediria de passar. Neste momento apareceu mais uma pessoa “da produção”, uma moça morena também de preto que eu não havia visto na roda inicial, que liberou nossa passagem. (Confesso que foi prazeroso olhar o rosto do troglodita infeliz sendo desautorizado).
Minha filha conseguiu assistir as últimas 5 músicas do Show, e assim que acabou, uma pessoa se apresentou como Relações Públicas do Shopping pedindo que o procurasse “antes de qualquer coisa”.
Outra pessoa “da produção” nos convidou para tirar fotografias com os artistas. Depois de tanto estresse, cansaço e humilhação, minha Luz só queria ir para casa e esticar o corpo. 
Independente de quem está certo ou errado, se as Leis foram ou não cumpridas, a desumanização, o egoísmo, a pressa e a rigidez dos seres que se dizem Humanos, me assusta.
Que lugar é esse em que mães com bebês de colo, se empurram para não “perder” o... elevador.... ?! 
Até quando as pessoas com deficiências serão invisíveis? Muitas mães não saem com seus filhos de casa, não por vergonha (como já ouvi de uma... pessoinha), mas pelo descaso e desrespeito de uma sociedade violenta e individualista. 
A falta de acessibilidade em escolas, calçadas esburacadas ou com degraus, ônibus “adaptados” com rampas emperradas e uma lista de entraves que não tem fim, são, antes de tudo, sintomas dessa desumanização!
Gostaria que este depoimento fosse compartilhado até chegar às poucas mães que nos ajudaram. Não tive a oportunidade de agradecê-las, porém não tenho dúvidas de que boas vibrações chegarão a elas e suas crianças.
Ainda não decidi o que farei com relação ao Shopping Villa Lobos e a equipe incompetente contratada por eles. Também não citarei nome das pessoas envolvidas, pois acredito na Justiça Divina. 
O Relações Públicas que me deu o cartão é do Grupo Máquina, e fui informada por ele de que a Equipe responsável pela Produção do Show foi Estrela na Cidade Produções. Não consegui confirmar estas informações com o Shopping. Por telefone, nem o RP eles conhecem (?!)
Conversei com um dos Cantores esta semana, que não sabia do ocorrido. Confirmou que nenhuma das pessoas envolvidas fazia parte da Produção do Palavra Cantada e pediu para que lhe enviasse email com meu relato para que pudesse tomar as devidas providências para que isto não ocorra nos próximos shows. 
Até quando as pessoas com deficiência serão invisíveis perante nossa sociedade? 
Até quando os seres “lutarão” por espaço, massacrando outros?
Quero também esclarecer que nem toda pessoa em cadeira de rodas é uma pessoa doente.”


Até mais,
bjo,    


Carol

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" As pessoas têm medo das mudanças. Eu tenho medo que as coisas nunca mudem". Chico Buarque
 
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