O post de hoje, eu deixo, mais uma vez,
nas mãos dada Ana Raquel Périco
Mangili, o texto fala sobre os “chiliques”.
Qual seria a relação deles com a Paralisia Cerebral? Será que
tem alguma relação?
Eu já falei sobre o tema aqui, me “usei” como
exemplo, os meus “chiliques” tinham
nome e sobrenome, esperta e pais “bobos”!!!!!!!!!!!!!!!!!! Essa questão sempre
aparece, pais acreditam que há relação entre “chiliques” e Paralisia Cerebral, já eu,
Ana e vários profissionais, vemos sim uma relação, mas diferente!!!!!!!!!!!!! Vamos ver o que a Ana
fala.
Ai vai o texto
Olá a todos!
Conforme me apresentei no post
anterior, fui convidada pela Carolina para escrever alguns textos para este
blog. Em uma de nossas conversas por e-mail, eu comentei com a Carol sobre uma
matéria antiga que ela havia postado aqui (http://carolcam.blogspot.com.br/2012/11/qual-e-relacao-comportamento-com.html), relacionando a Paralisia Cerebral
com o comportamento irritado e birrento de algumas crianças. Neste post, ela
havia dito que ia pesquisar o assunto mais a fundo e depois trazer suas
conclusões. E então, como toquei no assunto, ela me propôs que eu mesma
escrevesse sobre isso a vocês. Pois bem, vou apresentar meu ponto de vista
sobre o tema, baseado em alguns conhecimentos de psicologia e também nas minhas
próprias experiências como portadora de PC.
Crises nervosas e sua relação com a
Paralisia Cerebral
A infância é um período fundamental
para o ser humano. É nesta etapa do crescimento que ocorre o maior
desenvolvimento do cérebro, da coordenação motora e da formação das bases da
personalidade, de acordo com a variedade de estímulos recebidos pelo indivíduo.
Não é à toa que se recomenda o tratamento da criança tão logo ela seja
diagnosticada com Paralisia Cerebral, para que desde cedo ela tenha acesso a
estímulos mais reforçados e frequentes para o seu pleno desenvolvimento físico
e mental.
Porém, assim como qualquer outra
criança, a educação e o incentivo ao indivíduo portador de PC devem vir
acompanhados do estabelecimento de limites e de oportunidades de algumas
experiências de frustração. Por quê? A infância é como um “ensaio”, uma
preparação para a vida adulta. É neste momento que a criança deve começar a ter
contato com a atitude de negação de alguns de seus desejos. Para viver em
sociedade, temos que aprender a controlar nossas vontades, saber quando é
possível realizá-las e aceitar as eventuais perdas e frustrações. É a partir
dessas primeiras experiências de “derrotas” na infância que vamos adquirir a
bagagem emocional necessária para enfrentar os problemas da vida adulta, como
por exemplo, a perda de um emprego, o rompimento de um relacionamento ou uma
crise financeira.
Pais que mimam muito seus filhos,
cercando-os de vontades atendidas como se eles vivessem em um “paraíso”, podem
achar que estão fazendo bem para a criança, mas na verdade isso provocará um
grande sofrimento em longo prazo. Sem essas primeiras experiências de negação,
o indivíduo, quando chegar à vida adulta, não saberá lidar com situações
simples de frustração, e isso ocasionará um estresse e uma infelicidade acima
do normal em sua vida.
Essa superproteção dos pais se torna
ainda mais comum quando o filho possui alguma deficiência. Na busca de proteger
a criança do mundo e de suas próprias limitações físicas ou mentais, os pais
costumam dar liberdades e recursos incondicionais ao filho, o que muitas vezes
contrasta com a difícil realidade do mundo à sua volta. E a criança com
deficiência, ao transitar entre o mundo super acolhedor em que foi criada e o
mundo real, não saberá como reagir diante das dificuldades surgidas, e esse
impasse se manifestará em irritação extrema, crises nervosas e tentativas de
negação da realidade.
As crises nervosas (ou “birras”,
“manhas”, “chiliques”, qualquer que seja a denominação) costumam ser comuns em
crianças de até três anos, pois nessa fase da vida elas ainda não têm
maturidade para expressar suas frustrações verbalmente e com calma. Porém,
crises acima dessa idade já é um indício da dificuldade do indivíduo de lidar
com as negações e os limites que a vida lhe impõe.
A criança com Paralisia Cerebral (ou
com qualquer outro tipo de deficiência) que é superprotegida pelos pais, além
de ter sua independência reduzida e se irritar facilmente com qualquer atitude
que seja contrária aos seus desejos, pode também ter crises nervosas em relação
às circunstâncias que lhe exigem habilidades que o seu físico não lhe permite
possuir, como por exemplo, não poder acompanhar os seus colegas quando eles
andam de patins ou skate. Nisso, ela poderá chorar, gritar ou espernear, e
então os pais superprotetores buscarão recompensar essa tristeza de algum modo,
seja com presentes, agrados ou promessas, não dando a chance da criança se autoaceitar
do jeito que ela é e conhecer os seus próprios limites. Muito pelo contrário:
ao perceber esse constante agrado dos pais quando ela faz birra, a criança pode
acabar usando sempre o motivo de sua deficiência para justificar qualquer crise
e, dessa forma, conseguir a atenção dos pais ou de outras pessoas.
Finalizando, não é porque uma criança
possui deficiência que ela deve ser poupada de todas as outras decepções da
vida. Infelizmente (ou não), o mundo não gira em torno de uma pessoa só. Claro
que as frustações em excesso e que não são necessárias à criança devem ser
evitadas. Mas enfrentar as decepções desde cedo nos fará, futuramente, mais
fortes e mais felizes.
Ana Raquel P. Mangili.
Como eu disse no começo do post, minhas
reflexões expressas no texto acima são resultados também da minha própria
experiência como portadora de Paralisia Cerebral. Nasci prematura, e fui a
primeira filha dos meus pais. Minha mãe, principalmente, foi muito
protecionista e largou, durante um bom tempo, a sua própria vida para se
dedicar exclusivamente a mim. Corria atrás de fisioterapias e outros
tratamentos e atividades para desenvolver o meu físico. Devo muito do que sou
hoje a ela, é uma mãezona exemplar.
Porém, ela também nunca me negava nada,
principalmente durante minha infância. Queria compensar as atividades que eu
não poderia fazer com brinquedos e presentes. Se por qualquer coisa eu chorasse
ou fizesse pequenos “espetáculos”, ela estava sempre por perto para me amparar
e me defender. Como resultado disso, enfrentei (e até hoje enfrento) muitos
dilemas e frustrações durante a adolescência. Irrito-me facilmente por qualquer
coisinha que dê errado, sou muito perfeccionista e tenho dificuldades para
aceitar um “não” como resposta. São aspectos que incorporaram minha personalidade,
e que agora estou tentando mudar, pois causam estresse a mim e àqueles ao meu
redor.
Ana, novamente, obrigada pela participação aqui
no blog, quero mais!!!!!!!!!!!
Até mais,
bjo,
Carol
2 comentários:
Adorei!!!
bjos
Marina Barone Dantas
Obrigada, Marina! ;)
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