Primeira proibição na Faculdade de Psicologia

No terceiro semestre, ainda, mais surpresas: proibiram-me de realizar um trabalho prático na disciplina Aplicação de Testes Infantis.
Sobre os motivos da proibição, se os professores que conduziram o caso tivessem chegado com explicações que ajudassem em minha formação, eu até poderia entender, mas da forma como foi, não deu.
O trabalho era para ser feito em duplas. A professora, no final da aula, chamou a mim e à minha colega que seria a minha dupla e falou que eu ia ficar atrás de um espelho, na sala do espelho, para não assustar a criança. Na hora, eu fiquei atônita, não estava entendendo muito e perguntei: como assim, assustar? A professora então deu o exemplo dela: ela é gorda e algumas crianças perguntavam pra ela porque era tão gorda.
Comentei que muitas crianças também já perguntaram para mim porque sou assim e ao responder tudo ficava bem. Diante de minhas tentativas de argumentar sobre sua determinação e sem contra-argumentos de sua parte que me fizessem entender a posição tomada, a professora falou que achava que ia ser difícil de eu entender, apesar de ser uma das mais inteligentes da sala.
Marcou, então, uma reunião com a coordenadora do curso. Nesta, os professores (sim, havia outros professores a defender a posição da titular da disciplina) resolveram mudar o argumento: o teste Wisc precisava de coordenação motora e a parceira da dupla precisaria de outra pessoa para ajudar e três pessoas numa sala com a criança seria demais. Saí da reunião convicta de que eles estavam certos. Concordei que três pessoas seria
m demais para a criança. Lembrei-me inclusive de minha própria experiência com muitos profissionais ao meu redor. A sensação era horrível, nunca gostei de ser exposta, nunca deixei que me expusessem. Saí de lá e conversei com minha mãe, dizendo-lhe o motivo de eu não aplicar o teste na criança. Minha mãe contou para sua terapeuta, que a fez ver que havia um problema nesta história. Havia muita discriminação e muito preconceito embutidos sutilmente nesta argumentação. Partiram do pressuposto de que eu não poderia manusear o material do teste, mas não pensaram anteriormente de que formas eu poderia manuseá-lo. Sabe-se teoricamente que um dos propósitos de uma educação inclusiva é garantir que a instituição educacional possa assegurar os direitos de todos os alunos aprenderem o que é necessário para sua formação. Não era isso que esta faculdade estava fazendo. Estava partindo de um pressuposto preconceituoso.
Conversando novamente com minha colega de dupla, vimos que os argumentos não tinham fundamento pedagógico e insistimos mais uma vez. Meus pais marcaram uma reunião com a diretora que não custou para atendê-
los e quando o fez foi apenas para dizer que sou uma menina mimada e que deveria entender os limites da vida. Mas continuamos a insistir e a verdadeira explicação veio mais tarde: a diretora reafirmou que minha presença poderia assustar a criança e isso traria alterações.

Até mais,
bjo,
Carol

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" As pessoas têm medo das mudanças. Eu tenho medo que as coisas nunca mudem". Chico Buarque
 
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